As Mudanças na Indústria e a Distribuição de Insumos (V)

Matheus Cônsoli e Matheus Marino tratam nessa sequência de artigos, sobre a concentração na distribuição com desenvolvimento do atacado.

Discutimos nos artigos anteriores dessa sequência sobre potenciais cenários para a distribuição de insumos alguns temas que envolvem a concentração da distribuição, as questões e possíveis impactos no grau de exclusividade entre distribuidores e fornecedores e oportunidades para os negócios de nicho.

Neste artigo vamos abordar o quarto cenário que envolve a concentração na distribuição com desenvolvimento do atacado (redistribuidor como chamamos no mercado de agroquímicos no Brasil). O que estamos considerando nessa análise específica são duas premissas básicas: a concentração na distribuição aumentará e as pequenas revendas (muitas de nicho) se manterão, principalmente em mercados/regiões de estrutura fundiária fracionada e segmentos de hortifrúti por exemplo.

Assim, nesse cenário nossa análise considerou que grandes distribuidores, visualizando o mercado de “pequenas revendas” que acessam pequenos produtores, pode ser uma alternativa de incremento de faturamento e margens, dado que para o próprio distribuidor atender pequenos produtores com venda, crédito, logística etc, trará uma complexidade e custos para o qual sua estrutura não é eficiente.

Com isso, grandes distribuidores passariam a integrar aos seus negócios a operação de atacado (redistribuição) para atender esse mercado de revendas menores. Adicionalmente, como já abordamos em um artigo sobre modelos de negócios, esses mesmos distribuidores que porventura verticalizarem a operação de atacado, poderão também se tornar operadores logísticos e prestar serviços para as indústrias. Um cenário com a mesma lógica, mas “invertida” é que os operadores logísticos que existem atualmente no mercado venham a se transformar em grandes distribuidores.

Como eles já conhecem o mercado, já sabem quem são os principais clientes (sejam distribuidores ou produtores), “só” lhes faltam estrutura comercial e crédito para mudar o perfil do negócio e avançarem para frente na cadeia atuando como distribuidor.

Para as empresas estabelecidas na distribuição, desenvolver uma operação logística e atacado abre oportunidades de agregação de margens e serviços, mas demanda um nível de gestão, controles e capacidade financeira e logística que a maioria ainda não tem. Já operadores precisariam mudar rapidamente o escopo do negócio, pois apesar de conhecer e dominar a logística, lhes falta know-how comercial, mas que poderia ser adquirido via fusões e aquisições.

Por fim, as indústrias podem visualizar esse cenário como oportunidades e outras como ameaças, a depender da sua estrutura de distribuição, acordos e modelos de acesso. Conforme temos destacado em todos os artigos dessa série, são apenas análises de cenários, mas se ocorrerem, você está preparado? Bom trabalho.

 

 

Matheus Albeto Cônsoli ?? Especialista em Estratégias de Negócios, Gestão de Cadeias de Suprimentos, Distribuição e Marketing, Vendas e Avaliação de Investimentos. Doutor pela EESC/USP. Mestre em Administração pela FEA/USP. Administrador de Empresas pela FEA-RP/USP. Professor de MBA??s na FUNDACE, FIA, FAAP, PECEGE/ESALQ, entre outros.
Email: consoli@markestrat.org

Matheus Kfouri Marino - Especialista em estratégia empresarial, go to market (aceso à mercado), programas de incentivos e relacionamento, gestão de clientes, inteligência competitiva, gestão de revendas e cooperativas agroindustriais. Doutor em Administração pela FEA-USP em 2005, Mestre em Engenharia de Produção pela UFSCar em 2001, Engenheiro Agrônomo na FCAVJ-UNESP em 1997. Professor da FGV-EESP (Escola de Economia de São Paulo) e Sócio da Markestrat.
E-mail: mmarino@markestrat.org