Entenda do que se trata o "superciclo", qual sua importância para o negócio do Agrodistribuidor e como as informações podem ser interpretadas no dia a dia.
Seria um sonho para o agrodistribuidor se pudesse saber o futuro do preço das commodities agrícolas. Com a informação do preço futuro seu planejamento de investimentos de longo prazo teriam muito mais chances de sucesso. No entanto não há quem consiga precisar qual o futuro do preço das commodities e neste ambiente há bastante especulação sobre o que será do sobe e desce das cotações nos próximos anos.
Neste contexto começam a surgir notícias na mídia sobre um possível fim do “superciclo” das commodities que acaba por elevar a incerteza dos agentes do setor com relação aos preços futuros. É preciso, no entanto, entender do que se trata o “superciclo”, qual sua importância para o negócio do Agrodistribuidor e como as informações podem ser interpretadas no dia a dia.
Um estudo divulgado em fevereiro de 2012 pelo Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais da ONU (UN-DESA) identificou a existência de três ciclos de preços das commodities entre 1894 e 1999 e considera que o quarto ciclo foi iniciado nos anos 2000. O estudo mostrou que os preços das commodities se comportam de maneira cíclica e que o preço médio tem valor depreciado de um ciclo para outro. Os altos patamares alcançados pelas commodities nos últimos anos tem deixado o mercado apreensivo com a hipótese de que ciclo atual já tenha alcançado seu ápice.
As matérias publicadas no jornal “Valor Econômico” nos últimos meses – “China testa limite do atual ‘superciclo’ das commodities” e “Investidores se ajustam ao fim do ‘superciclo’ das commodities” - ilustram a apreensão do mercado. A figura 1 abaixo (ver arquivo em PDF) foi retirada do estudo original e adaptada para este artigo. A linha em vermelho representa os ciclos com pontos de altos e baixos bastante marcados em cada um dos três ciclos.
O período compreendido entre o fim da II Guerra Mundial e a primeira década do século XXI teve como gatilho da alta de preços os choques de demanda, isto é, uma demanda forte foi responsável pelos picos de preços. Além disso, observou-se que o preço das commodities está positivamente correlacionado com a variação do PIB mundial. Portanto, fatores estruturais como crescimento da economia e da demanda mundial são responsáveis pelas variações dos preços das commodities.
Fatores conjunturais, tais como uma frustração de safra ou supersafra afetam o mercado apenas momentaneamente e não devem ser confundidos com os fatores que de fato irão determinar o preço no longo prazo. Se estamos atualmente na fase descendente de um “superciclo” ou se estamos no topo dele, só a história poderá contar, mas algumas coisas temos que ter em mente a cerca dos fatores estruturais que devem influenciar o preço no médio/longo prazo.
Mas antes é importante separar, commodities agrícolas de outras commodities como os minérios e petróleo pois este último grupo, além de serem recursos escassos, são afetados pelos modelos de crescimento escolhido pelos países tal como a especulação que se faz sobre a China estar passando de um modelo de desenvolvimento pautado em investimentos em infraestrutura para um modelo sustentado pelo consumo da população.
No caso de commodities agrícolas a conversa é outra! Segundo a FAO , até 2050 a população mundial deve alcançar entre 8 e 10,5 bilhões de habitantes demandando cerca de 70% mais alimentos em relação ao consumo atual. Além disso, o padrão de consumo mundial tende a mudar com o incremento da renda média da população, o consumo de proteína deve crescer e esta por sua vez demandará mais grãos. Não obstante, deve haver uma migração de mais de 1,5 bilhões de agricultores dos campos para as cidades exercendo ainda mais pressão sobre o consumo de alimentos.
São estes os fatores estruturais que deverão reger o preço das commodities agrícolas nas próximas décadas e as naturais oscilações de produção e demanda entre uma safra e outra e a especulação financeira em torno das commodities darão o tom dos preços em períodos curtos.
Referência:
Alexandratos, N., & Bruinsma, J. (2012). WORLD AGRICULTURE TOWARDS 2030 / 2050: The 2012 Revision. ESA Working paper. Rome.
Erten, B., & Ocampo, A. (2012). Super-cycles of commodity prices since the mid-nineteenth century.
* Os autores são consultores da Markestrat.Unibusiness e atuam em projetos em agronegócios e distribuição de insumos agropecuários.
Para maiores informações, acesse www.markestrat.org
Neste contexto começam a surgir notícias na mídia sobre um possível fim do “superciclo” das commodities que acaba por elevar a incerteza dos agentes do setor com relação aos preços futuros. É preciso, no entanto, entender do que se trata o “superciclo”, qual sua importância para o negócio do Agrodistribuidor e como as informações podem ser interpretadas no dia a dia.
Um estudo divulgado em fevereiro de 2012 pelo Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais da ONU (UN-DESA) identificou a existência de três ciclos de preços das commodities entre 1894 e 1999 e considera que o quarto ciclo foi iniciado nos anos 2000. O estudo mostrou que os preços das commodities se comportam de maneira cíclica e que o preço médio tem valor depreciado de um ciclo para outro. Os altos patamares alcançados pelas commodities nos últimos anos tem deixado o mercado apreensivo com a hipótese de que ciclo atual já tenha alcançado seu ápice.
As matérias publicadas no jornal “Valor Econômico” nos últimos meses – “China testa limite do atual ‘superciclo’ das commodities” e “Investidores se ajustam ao fim do ‘superciclo’ das commodities” - ilustram a apreensão do mercado. A figura 1 abaixo (ver arquivo em PDF) foi retirada do estudo original e adaptada para este artigo. A linha em vermelho representa os ciclos com pontos de altos e baixos bastante marcados em cada um dos três ciclos.
O período compreendido entre o fim da II Guerra Mundial e a primeira década do século XXI teve como gatilho da alta de preços os choques de demanda, isto é, uma demanda forte foi responsável pelos picos de preços. Além disso, observou-se que o preço das commodities está positivamente correlacionado com a variação do PIB mundial. Portanto, fatores estruturais como crescimento da economia e da demanda mundial são responsáveis pelas variações dos preços das commodities.
Fatores conjunturais, tais como uma frustração de safra ou supersafra afetam o mercado apenas momentaneamente e não devem ser confundidos com os fatores que de fato irão determinar o preço no longo prazo. Se estamos atualmente na fase descendente de um “superciclo” ou se estamos no topo dele, só a história poderá contar, mas algumas coisas temos que ter em mente a cerca dos fatores estruturais que devem influenciar o preço no médio/longo prazo.
Mas antes é importante separar, commodities agrícolas de outras commodities como os minérios e petróleo pois este último grupo, além de serem recursos escassos, são afetados pelos modelos de crescimento escolhido pelos países tal como a especulação que se faz sobre a China estar passando de um modelo de desenvolvimento pautado em investimentos em infraestrutura para um modelo sustentado pelo consumo da população.
No caso de commodities agrícolas a conversa é outra! Segundo a FAO , até 2050 a população mundial deve alcançar entre 8 e 10,5 bilhões de habitantes demandando cerca de 70% mais alimentos em relação ao consumo atual. Além disso, o padrão de consumo mundial tende a mudar com o incremento da renda média da população, o consumo de proteína deve crescer e esta por sua vez demandará mais grãos. Não obstante, deve haver uma migração de mais de 1,5 bilhões de agricultores dos campos para as cidades exercendo ainda mais pressão sobre o consumo de alimentos.
São estes os fatores estruturais que deverão reger o preço das commodities agrícolas nas próximas décadas e as naturais oscilações de produção e demanda entre uma safra e outra e a especulação financeira em torno das commodities darão o tom dos preços em períodos curtos.
Referência:
Alexandratos, N., & Bruinsma, J. (2012). WORLD AGRICULTURE TOWARDS 2030 / 2050: The 2012 Revision. ESA Working paper. Rome.
Erten, B., & Ocampo, A. (2012). Super-cycles of commodity prices since the mid-nineteenth century.
* Os autores são consultores da Markestrat.Unibusiness e atuam em projetos em agronegócios e distribuição de insumos agropecuários.
Para maiores informações, acesse www.markestrat.org