O negócio da China com clientes

Após participar do IFAMA - Shangai 2012, Fabio Mizumoto discute neste artigo o "negócio da China", abordando o mercado local, assim como as oportunidades para os agrodistribuidores.

O congresso internacional de agronegócio (IFAMA) aconteceu no mês passado em Shangai na China. Tivemos a oportunidade de apresentar as nossas pesquisas e resultados das nossas consultorias, bem como aprendemos novas ideias e outras perspectivas sobre negócios. Mesmo com quase uma centena de países representados, estávamos atentos para conhecer o ?negócio da China?. Hoje a China é considerada a segunda maior economia do mundo, com crescimento médio anual de 8,1%, sendo que o crescimento médio da indústria é ainda mais acentuado e atinge 47,1%. Além disto, a China é o segundo maior país produtor agrícola em volume, mesmo tendo apenas 14% do seu território cultivado. Os chineses e seu governo passaram a investir muito no desenvolvimento da produção local. Reconhecem que continuarão a importar muito alimento e, progressivamente, as importações de volumes de commodities abrirão espaço para a importação de produtos mais elaborados e de valor mais agregado. Isto é o chamado efeito de Engel em homenagem ao economista que estabeleceu a relação de aumento de renda e melhoria da dieta do indivíduo. Com mais renda, o consumidor deixa de consumir a proteína vegetal para consumir mais proteína animal. Para o progresso da agricultura chinesa há muito o que ser feito. Em sessão plenária se discutiu muito o problema de defensivos falsificados. As estatísticas são mera estimativa, mas se falou em até 70% de produtos falsificados! Muito polêmico, é claro. Quem contra-argumentou apresentou números de até 30% de falsificação, o que continua a ser um valor muito elevado. Falta para os chineses uma rede de agrodistribuidores como temos no Brasil que promovam difusão tecnológica, que tenham presença no campo e que estabeleçam relacionamento com os agricultores! A pesquisa de destaque no congresso foi a de uma doutoranda da Alemanha. Sua pesquisa é sobre como tratar os agricultores de forma justa, em que medida isto está relacionado com: a) satisfação de preço; b) confiabilidade de entrega de produto/suprimento; c) relacionamento de longo prazo. O trabalho prático contou com entrevistas de 533 agricultores e os resultados podem inspirar os agrodistribuidores. Primeiro: 40% dos agricultores entrevistados não se sentiam tratados de forma justa. Segundo: mais do que preço baixo ? que nós entendíamos como ?negócio da China? ? o que os agricultores valorizaram foi o relacionamento justo. Em ambientes turbulentos como os de hoje o compromisso de relacionamento tem sido o verdadeiro ativo dos agrodistribuidores. Na China também é assim. Você pode levar dois anos para conseguir fechar um contrato e ser convidado para a mesa redonda, literalmente. No período de negociações você sempre vai para a mesa quadrada ou retangular. Quando existe consenso e o negócio será fechado, você vai para a mesa redonda. E você agrodistribuidor brasileiro? Você tem sentado com o seu cliente em mesas quadradas ou redondas? Pense nisto!
*O autor é sócio da Uni.Business Estratégia e atua em projetos em agronegócios e distribuição de insumos agropecuários.
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